Entre a ciência da leitura e a prática docente: o lugar das ciências cognitivas nos cursos de Pedagogia
DOI:
https://doi.org/10.17058/signo.v50i99.20503Palavras-chave:
Ciências Cognitivas da Leitura, Alfabetização, Currículos., Pedagogia, Formação de professoresResumo
As descobertas científicas dos últimos vinte anos no campo das Ciências Cognitivas da Leitura (CCL) vêm apontando as bases da aprendizagem da leitura. Contudo, os resultados atuais de proficiência em leitura, nacionais e internacionais, evidenciam que tais descobertas parecem ter pouco impacto nas práticas educacionais. Tal fato pode estar relacionado à lacuna entre os currículos dos cursos de Educação e as evidências das CCL (Seidenberg, 2013). O presente estudo analisou os currículos dos cursos de Pedagogia de universidades federais das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país, com o intuito de observar em que medida eles estão em consonância com as evidências das CCL. A pesquisa envolveu a análise curricular de disciplinas voltadas ao processo de alfabetização de duas universidades federais de cada uma das regiões citadas acima. Os resultados evidenciaram poucas relações entre as evidências das CCL e as propostas curriculares dos cursos de Pedagogia. Em relação às bibliografias indicadas nos currículos, cerca de 80% das universidades selecionadas não indicam leituras atualizadas e em consonância com as CCL no que diz respeito aos processos da alfabetização. Sobre as habilidades metalinguísticas de consciência fonológica e a decodificação das palavras, foi constatado que elas são contempladas apenas em 20% das disciplinas dos currículos de formação das universidades federais. Diante disso, ressaltamos a importância da revisão/renovação curricular dos cursos de Pedagogia e a inclusão de práticas educacionais que incorporem os achados científicos sobre os mecanismos de leitura. Dessa forma, será possível ampliar a compreensão sobre as habilidades e os processos de aprendizagem da leitura e a formação de leitores proficientes.
Downloads
Referências
ADAMS, M. J. et al. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed, 2006. 216p.
BENEDETTI, S. K. A falácia socioconstrutivista: por que os alunos brasileiros deixaram de aprender a ler e escrever. Campinas: Kírion, 2020.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Brasília, DF: INEP, 2023. Disponível em: https://download.inep.gov.br/ideb/apresentacao_ideb_2023.pdf. Acesso em: 13 set. 2024.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Brasil no PIRLS 2021: Sumário Executivo. Brasília, DF: Inep, 2023.
BRASIL. Resolução CNE/CP n. 2, de 20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação), 2019a. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=135951-rcp002-19&category_slug=dezembro-2019-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 25 maio 2024.
BRASIL. MEC. Secretaria de Alfabetização. PNA: Política Nacional de Alfabetização. Brasília: MEC, SEALF, 2019b.
BRASIL. INEP. Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA). Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais e Anísio Teixeira, 2016.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação infantil. Introdução. Brasília, DF: MEC, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf. Acesso em: 2 jun. 2024.
CABELL, S. Q.; JUSTICE, L. M.; ZUCKER, T. A.; MCGINTY, A S. Emergent literacy: Early literacy development and instruction. Journal of Early Childhood Literacy, v. 9, n. 1, p. 1–20, 2009.
CLAY, M. M. Becoming literate: The construction of inner control. Portsmouth, NH: Heinemann, 2001.
DEHAENE, S. A aprendizagem da leitura modifica as redes corticais da visão e da linguagem verbal. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 48, n. 1, p. 148-152, 2013.
DEHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica nossa capacidade de ler. Tradução de Leonor Scliar-Cabral. Porto Alegre: Penso, 2012.
GABRIEL, R; KOLINSKY, R; MORAIS, J. O milagre da leitura: de sinais escritos a imagens imortais. Delta, [s. l.], v. 32, p. 919-951, 2016. https://doi.org/10.1590/0102-44508205042893915.
GABRIEL, R. Letramento, alfabetização e literacia: um olhar a partir da ciência da leitura. Revista Prâksis, v.2, 76–88, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.25112/rpr.v2i0.1277. Acesso em: 13 jun. 2024.
SCHERER, L. C.; GABRIEL, R. Processamento da linguagem: contribuições da neurolinguística. Signo, v. 32, n. 53, p. 66-81, 3 jul. 2007. DOI: https://doi.org/10.17058/signo.v32i53.245. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/view/245. Acesso em: 2 jun. 2024.
MILESKI, I; SOUSA, L. B. de . A emergência da especialização cerebral para leitura de palavras. In: GABRIEL, R. et al. Tecendo conexões entre cognição, linguagem e leitura. Curitiba: Multideia, 2014.
MORAIS, J; LEITE, L; KOLINKSY. Entre a pré-leitura e a leitura hábil: condições e patamares da aprendizagem. In. MALUF, M. R.; CARDOSO-MARTINS, C (org). Alfabetização no século XXI: Como se aprende a ler e a escrever. Porto Alegre: Editora Penso, 2013.
NATIONAL INSTITUTE OF CHILD HEALTH AND HUMAN DEVELOPMENT. Report of the National Reading Panel: Teaching children to read: An evidence-based assessment of the scientific research literature on reading and its implications for reading instruction. Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 2000.
PAOLUCCI, K. Aprendendo com a ciência cognitiva da leitura: um estudo de caso de intervenção fônica na alfabetização. 2022. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
PEREIRA, A. E. Contribuições da prática de leitura compartilhada na infância para o desenvolvimento da literacia e para a criação de leitores. Tese de Doutorado, Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), 2021.
QUINTAL, T. M. M. de. Contribuições das Ciências Cognitivas para a alfabetização em uma proposta de formação de professores. 2021. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
SARGIANI, R. Alfabetização baseada em evidências: como a ciência cognitiva da leitura contribui para as práticas e políticas educacionais de literacia. In SARGIANI, R (org). Alfabetização baseada em evidências: da ciência à sala de aula. Porto Alegre: Penso, 2022.
SCARBOROUGH, H. S. Connecting early language and literacy to later reading (dis)abilities: Evidence, theory, and practice. In: NEUMAN, Susan B.; DICKINSON, David K. (Ed.). Handbook of Early Literacy Research. New York: Guilford Press, 2001. v. 1, p. 97–110.
SEIDENBERG, S. M. The Science of Reading and Its Educational Implications. Journal of Language Learning and Development, London, v. 9, n 4, (p. 331–360), 2013.
SNOW, E. C. O que os professores precisam saber? In. SARGIANI, R (org). Alfabetização baseada em evidências: da ciência à sala de aula. Porto Alegre: Penso, 2022.
SNOW, C. E.; BURNS, M. S.; GRIFFIN, P. (Ed.). Preventing reading difficulties in young children. Washington, DC: National Academy Press, 1998.
STANOVICH, K. E. Matthew effects in reading: some consequences of individual differences in the acquisition of literacy. Journal of Education, v. 189, n. 1-2, p. 23-55, 2009.
SHANAHAN, T.; SHANAHAN, C. Teaching disciplinary literacy to adolescents: rethinking content-area literacy. Harvard Educational Review, v. 78, n. 1, p. 40-59, 2008.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Declaro(amos) que o artigo submetido é pessoal, inédito, não representando reprodução, ainda que parcial, de obras de terceiros, assumindo a responsabilidade por todas as colocações e conceitos emitidos, bem como também autorizo(amos) sua publicação pela revista Signo, Universidade de Santa Cruz do Sul. Declaro(amos) exonerar a APESC/UNISC de todas e quaisquer responsabilidades, e indenizá-la por perdas e danos que venha a sofrer em caso de contestação (da originalidade e dos conceitos e ideias); Declaro(amos), caso o artigo seja aceito e publicado pela revista Signo, a cedência e transferência de forma definitiva e perpétua, irrevogável e irretratável, para a APESC, dos seus direitos autorais patrimoniais referentes ao artigo denominado nesta declaração, para utilização da APESC em finalidade educacional. Concordo(amos) e estou(amos) ciente(s) de que a publicação eletrônica é de livre acesso, regida com uma Licença Os autores que publicam na Signo retêm os direitos autorais de seu trabalho, licenciando-o sob a Creative Commons Attribution License que permite que os artigos sejam reutilizados e redistribuídos sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. A Signo é propriedade da Associação Pró-Ensino em Santa Cruz do Sul e hospeda na plataforma Open Journal System. Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.