“É crime stalkear, né? Mas eu stalkeio”: A vivência do abuso digital
DOI:
https://doi.org/10.17058/psiunisc.v9i.19181Palavras-chave:
abuso emocional, adulto jovem, tecnologia digital, violência por parceiro íntimoResumo
Introdução: O abuso digital envolve a perpetração de comportamentos agressivos e controladores contra um parceiro íntimo por meio da tecnologia. Esse fenômeno tem se configurado como uma forma contemporânea de violência nas relações afetivas, marcada por dinâmicas de poder, controle e vigilância, com impactos relevantes sobre a saúde mental de jovens. Objetivos: Compreender as experiências de jovens brasileiros acerca do abuso digital em relacionamentos íntimos, analisando os comportamentos, crenças e impactos associados a essa forma de violência. Método: Trata-se de um estudo qualitativo, de corte transversal, vinculado ao projeto mais amplo “Abuso Digital entre Parceiros Íntimos: um estudo com jovens brasileiros”. Participaram 14 jovens com idades entre 23 e 29 anos (71,4% mulheres), que responderam a entrevistas semiestruturadas realizadas de forma online. As entrevistas foram transcritas e submetidas à análise temática. Resultados: Os achados evidenciaram ações ou conjuntos de ações mediadas pela tecnologia que geraram desconforto em pelo menos uma das partes da relação, incluindo controle, monitoramento e agressão direta. Foram identificados argumentos utilizados pelos participantes para justificar o abuso digital, relacionados a crenças sobre o amor romântico e à naturalização do ciúme. Também se observaram impactos frequentes sobre a saúde mental, como sintomas de ansiedade e depressão, bem como estratégias de enfrentamento centradas no fortalecimento da rede de apoio e na busca de ajuda profissional. Conclusão: O abuso digital constitui uma forma significativa de violência em relacionamentos íntimos, ancorada em dinâmicas de poder e controle. O estudo reforça a necessidade de ampliar a visibilidade desse fenômeno e de desenvolver estratégias preventivas e interventivas voltadas a jovens em contextos acadêmicos e comunitários.
Downloads
Referências
Alsawalqa, R. O., & Alrawashdeh, M. N. (2022). The role of patriarchal structure and gender stereotypes in cyber dating abuse: A qualitative examination of male perpetrators experiences. The British Journal of Sociology, 73(3), 587-606. https://doi.org/10.1111/1468-4446.12946
Angelim, F. P. & Diniz, G. R. S. (2010). A Teoria do Duplo-Vínculo como referencial teórico para intervenções em casos de violência contra mulheres. In. Ghesti-Galvão & Roque E. C. B (Orgs.), Aplicação da lei em uma perspectiva interprofissional: Direito, psicologia, psiquiatria, serviço social e ciências sociais na prática jurisdicional (pp. 397 - 412). Editora Lumen Juris. https://doi.org/10.1590/0102.3772e3346
Balik, C. H. A & Bilgin, H. (2021). Experiences of minority stress and intimate partner violence among homosexual women in Turkey. Journal of Interpersonal Violence, 36(19-20), 8984-9007. https://doi.org/10.1177/0886260519864371
Banca, A. M., & Andrioni, F. (2023). The Vicious Circle of Violence between Aggressor and Victim. Rev. Universitara Sociologie, 174. Recuperado de https://sociologiecraiova.ro/revista/wp-content/uploads/2023/05/RUS_1_2023-3-174-180.pdf
Basting, E. J., Munshi, I., Harangozo, J., Dongarra, M. S., & Goncy, E. A. (2023). When does technology use within dating relationships cross the line? A thematic analysis of semistructured interviews with young adults. Psychology of Violence. https://doi.org/10.1037/vio0000479
Braun, V. & Clarke, V. (2006). Reflecting on reflexive thematic analysis. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, 11(4), 589-597. https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1628806
Brown, C., & Hegarty, K. (2018). Digital dating abuse measures: A critical review. Aggression and Violent Behavior, 40, 44–59. https://doi.org/10.1016/j.avb.2018.03.003
Caridade, S., Braga, T., & Borrajo, E. (2019). Cyber dating abuse (CDA): Evidence from a systematic review. Aggression and Violent Behavior, 48, 152–168. https://doi.org/10.1016/j.avb.2019.08.018
Carneiro, J. B., Gomes, N. P., Estrela, F. M., Paixão, G. P. D. N., Romano, C. M. C., & Mota, R. S. (2019). Desvelando as estratégias de enfrentamento da violência conjugal utilizadas por mulheres. Texto & Contexto-Enfermagem, 29. https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2018-0396
Cavalcanti, J. G. & Coutinho, M. P. L. (2019) Abuso digital em las relaciones amorosas: uma revision sobre prevalência, instrumentos de evaluación y factores de riesgo. Avances em psicologia, 37(2) 235-254. http://dx.doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.6888
Cavalcanti, J. G, Coutinho, M. P. L. & Pinto, A. V. L. (2020). Abuso digital nas relações amorosas: um estudo das representações sociais com universitários brasileiros. Ciencias Psicológicas, 14(2). https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/vol37num2
Dhir, A., Talwar, S., Kaur, P., Budhiraja, S. & Islam, N. (2021). The dark side of social media: Stalking, online self‐disclosure and problematic sleep. International Journal of Consumer Studies. https://doi.org/10.1111/ijcs.12659
Flach, R. M. D. & Deslandes, S. F. (2017). Abuso digital nos relacionamentos afetivo-sexuais: uma análise bibliográfica. Cadernos de Saúde Pública, 33, e00138516. Recuperado de https://www.scielo.br/j/csp/a/KxzjtF4CnnYDqkbpTXfWdnt/abstract/?lang=pt
Flach, R. M. D. & Deslandes, S. F. (2019). Abuso digital ou prova de amor? O uso de aplicativos de controle/monitoramento nos relacionamentos afetivo-sexuais. Cad. Saúde Pública 35(1). http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00060118
Flach, R. M. D., & Deslandes, S. F. (2021). Regras/rupturas do “contrato” amoroso entre adolescentes: o papel do abuso digital. Ciência & Saúde Coletiva, 26, 5033-5044. https://doi.org/10.1590/1413-812320212611.3.34242019
Flick, U. (2022). An introduction to qualitative research. Recuperado de https://order-papers.com/sites/default/files/tmp/webform/order_download/pdf-an-introduction-to-qualitative-research-uwe-flick-pdf-download-free-book-2a466da.pdf
Giudice, G., Tarrant, S., & Tolmie, J. (2019). Transforming legal understandings of intimate partner violence. ANROWS. Recuperado de https://www.anrows.org.au/publication/transforming-legal-understandings-of-intimate-partner-violence/
Guba, E. G., & Lincoln, Y. S. (1994). Competing paradigms in qualitative research. Handbook of qualitative research, 2(163-194), 105. Recuperado de https://ethnographyworkshop.wordpress.com/wp-content/uploads/2014/11/guba-lincoln-1994-competing-paradigms-in-qualitative-research-handbook-of-qualitative-research.pdf
Huuki, T., Kyrölä, K., & Pihkala, S. (2022). What else can a crush become: working with arts-methods to address sexual harassment in pre-teen romantic relationship cultures. Gender and education, 34(5), 577-592. https://doi.org/10.1080/09540253.2021.1989384
Keen A. (2012) Vertigem digital: por que as redes sociais estão nos dividindo, diminuindo e desorientando. Zahar. https://doi.org/10.15448/1980-3729.2014.1.17608
Kvale, S., & Brinkmann, S. (2009). Interviews: Learning the craft of qualitative research interviewing. sage. Recuperado de https://psycnet.apa.org/record/2008-15512-000
Kyegombe, N., Stern, E., & Buller, A. M. (2022). “We saw that jealousy can also bring violence”: A qualitative exploration of the intersections between jealousy, infidelity and intimate partner violence in Rwanda and Uganda. Social Science & Medicine, 292, 114593. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2021.114593
Lelaurain, S., Fonte, D., Giger, J. C., Guignard, S., & Lo Monaco, G. (2021). Legitimizing intimate partner violence: The role of romantic love and the mediating effect of patriarchal ideologies. Journal of interpersonal violence, 36(13-14), 6351-6368. https://doi.org/10.1177/0886260518818427
Lima, P. O. & Morais, N. A. (2022). Digital abuse between intimate partners: an integrative literature review. Contextos Clínicos, 15(1), https://doi.org/10.4013/ctc.2022.151.14
Lizama-Lefno, A., & Quiñones, A. H. (2019). Acoso sexual en el contexto universitario: estudio diagnóstico proyectivo de la situación de género en la Universidad de Santiago de Chile. Pensamiento Educativo, Revista de Investigación Latinoamericana (PEL), 56(1), 1-14. https://doi.org/10.7764/PEL.56.1.2019.8
Lourenço, L. M., & Costa, D. P. (2020). Violência entre Parceiros Íntimos e as Implicações para a Saúde da Mulher. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 13(1), 1-18. https://doi.org/10.36298/gerais2020130109
Lu, Y., Van Ouytsel, J., & Temple, J. R. (2021). In-person and cyber dating abuse: A longitudinal investigation. Journal of social and personal relationships, 38(12), 3713-3731. https://doi.org/10.1177/02654075211065202
Machimbarrena, J., Calvete, E., Fernández-González, L., Álvarez-Bardón, A., Álvarez-Fernández, L. & González-Cabrera, J. (2018). Internet risks: An overview of victimization in cyberbullying, cyber-dating abuse, sexting, online grooming and problematic internet use. International Journal of Environmental Research and Public Health, 15(11), 2471. https://doi.org/10.3390/ijerph15112471
Marcum, C. D., Higgins, G. E. & Nicholson J. (2017) I’m watching you: cyberstalking behaviors of university students in romantic relationships Am. J. Crim. Justic., 42 (2) 373-388, https://doi.org/10.1007/s12103-016-9358-2
Meletti, A. T. & Scorsolini-Comin, F. (2015). Conjugalidade e expectativas em relação à parentalidade em casais homossexuais. Psicologia: teoria e prática, 17(1), 37-49. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872015000100004
Moreira, J.O, Lima, N. L., Stengel, M., Pena, B. F. & Salomão, C. S. (2017). A exposição do amor na internet: público ou íntimo? Arquivos Brasileiros de Psicologia, 69(1), 5-18. https://www.redalyc.org/pdf/2290/229053872002.pdf
Morelli, M., Bianchi, D., Chirumbolo, A. & Baiocco, R. (2017). The cyber dating violence inventory. Validation of a new scale for online perpetration and victimization among dating partners. European Journal of Developmental Psychology, 15(4), 464–471. https://doi.org/10.1080/17405629.2017.1305885
Nyame, S., Howard, L., Feder, G. & Trevillion, K. (2013).A survey of mental health professionals’ knowledge, attitudes and preparedness to respond to domestic violence. Journal of Mental Health, 22(6), 536-543. https://doi.org/10.3109/09638237.2013.841871
Oliveira, Q. B. M., Assis, S. G. D., Njaine, K. & Pires, T. D. O. (2017). Violência física perpetrada por ciúmes no namoro de adolescentes: Um recorte de gênero em dez capitais brasileiras. Psicologia: teoria e pesquisa, 32. https://doi.org/10.1590/0102-3772e32323
Paat, Y. F., Markham, C., & Peskin, M. (2019). Psycho-emotional violence, its association, co-occurrence, and bidirectionality with cyber, physical and sexual violence. Journal of Child & Adolescent Trauma. https://doi.org/10.1007/s40653-019-00283-z
Pedrosa, M. & Zanello, V. (2017). (In) visibilidade da violência contra as mulheres na saúde mental1. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32. https://doi.org/10.1590/0102-3772e32ne214
Pinto, I. V., Andrade, S. S. D. A., Rodrigues, L. L., Santos, M. A. S., Marinho, M. M. A., Benício, L. A., Correia, R. S. B., Polidoro, M. & Canavese, D. (2020). Perfil das notificações de violências em lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Revista Brasileira de Epidemiologia, 23. https://doi.org/10.1590/1980-549720200006.supl.1
Reed, E., Salazar, M., Behar, A. I., Agah, N., Silverman, J. G., Minnis, A. M., ... & Raj, A. (2019). Cyber sexual harassment: Prevalence and association with substance use, poor mental health, and STI history among sexually active adolescent girls. Journal of adolescence, 75, 53-62. https://doi.org/10.1016/j.adolescence.2019.07.005
Reed, L. A., Lawler, S. M., Cosgrove, J. M., Tolman, R. M., & Ward, L. M. (2021). “It was a joke:” Patterns in girls’ and boys’ self-reported motivations for digital dating abuse behaviors. Children and youth services review, 122, 105883. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2020.105883
Rocha-Silva, T., Nogueira, C., & Rodrigues, L. (2021). Intimate abuse through technology: A systematic review of scientific constructs and behavioral dimensions. Computers in Human Behavior, 122, 106861. https://doi.org/10.1016/j.chb.2021.106861
Rueda, H. A., Brown, M. L., & Geiger, J. M. (2020). Technology and dating among pregnant and parenting youth in residential foster care: A mixed qualitative approach comparing staff and adolescent perspectives. Journal of Adolescent Research, 35(4), 521-545. https://doi.org/10.1177/0743558419861087
Sani, A. I., & Valquaresma, J. (2020). Cyberstalking preualência e estratégias de coping em estudantes portugueses do ensino secundário. Avances en Psicología Latinoamericana, 38(3), 66-83. https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.8160
Sapkota, D., Baird, K., Saito, A., & Anderson, D. (2019). Interventions for reducing and/or controlling domestic violence among pregnant women in low-and middle-income countries: a systematic review. Systematic reviews, 8, 1-11. Recuperado de https://systematicreviewsjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13643-019-0998-4
Scott, J. B. & Oliveira, I. F. (2018) Perfil de homens autores de violência contra a mulher: uma analise documental. Ver. Psicol. Imed, passo funci, 10 (2), 71-88. https://doi.org/10.18256/2175-5027.2018.v10i2.2951
Sears, H. A., Byers, E. S., Whelan, J. J. & Saint-Pierre, M. (2006). If it hurts you, then it is not a joke: Adolescents’ ideas about girls and boys use of abusive behavior in dating relationships. Journal of Interpersonal Violence, 21(9),1191-1207. https://doi.org/10.1177/0886260506290423
Semenza, D. C. (2019). Gender differences in the victim-offender relationship for on- and offline youth violence. Journal of Interpersonal Violence, 088626051986435. https://doi.org/10.1177/0886260519864358
Stevens, F., Nurse, J. R., & Arief, B. (2021). Cyber stalking, cyber harassment, and adult mental health: A systematic review. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, 24(6), 367-376. https://doi.org/10.1089/cyber.2020.0253
Stonard, K. E. (2020). “Technology was designed for this”: Adolescents’ perceptions of the role and impact of the use of technology in cyber dating violence. Computers in human behavior, 105, 106211. https://doi.org/10.1016/j.chb.2019.106211
Van Ouytsel, J., Lu, Y., Shin, Y., Avalos, B. L., & Pettigrew, J. (2021). Sexting, pressured sexting and associations with dating violence among early adolescents. Computers in human behavior, 125, 106969. https://doi.org/10.1016/j.chb.2021.106969
Wolford-Clevenger, C., Elmquist, J., Brem, M., Zapor, H. & Stuart, G. L. (2015). Dating violence victimization, interpersonal needs, and suicidal ideation among college students. Crisis. https://doi.org/10.1027/0227-5910/a000353
Worsley, J. D., Wheatcroft, J. M., Short, E. & Corcoran R. (2017) Victims’ voices: understanding the emotional impact of cyberstalking and individuals’ coping responses. SAGE Open, 7 (2) 1-13, https://doi.org/10.1177/2158244017710292’
Zanello, V. (2018). Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação. Appris.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais e científicas desde que citada a fonte conforme a licença CC-BY da Creative Commons.

