O acompanhamento terapêutico (AT) como movimento político pela liberdade
DOI:
https://doi.org/10.17058/psiunisc.v9i.18512Palavras-chave:
acompanhamento terapêutico, saúde mental, reforma psiquiátrica, atenção psicossocialResumo
Introdução: No início dos anos 2000 o cuidado em saúde mental passou a ser oferecido no território, concebido como uma rede de atenção psicossocial. Os serviços de saúde mental construíram novas formas de cuidado e novos olhares para o sofrimento psíquico grave. Foi um grande avanço que remodelou o cenário cultural e um longo processo de desinstitucionalização das práticas e dos discursos em relação à loucura. O Acompanhamento Terapêutico (AT) é uma prática que nasceu junto aos movimentos de reforma na Saúde Mental, e se desenvolveu como uma clínica ampliada que se exerce fora do território institucional, buscando articular os elementos do seu cotidiano como estratégia terapêutica. Objetivo: O objetivo deste artigo, portanto, foi o de tecer uma reflexão sobre a história da prática do AT e suas prerrogativas emancipatórias e territoriais no cuidado em saúde mental. Metodologia: A pesquisa teve um desenho exploratório e descritivo para alcançar os seus objetivos. A abordagem do estudo foi qualitativa, com base em entrevistas com roteiro semiestruturado. A análise dos dados foi realizada por análise de conteúdo. Resultados: Os resultados mostraram que as práticas do AT no Brasil caminharam pari passu com os princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira e com o Modo de Atenção Psicossocial, constituindo-se como um potente dispositivo político de fortalecimento de direitos dos usuários, como o direito à cidade e a uma vida digna, e se colocam na mediação do resgate da cidadania, alimentado pelo desejo de reinserção social.
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