Classes verbais e alternâncias no Português Brasileiro: estudo semântico dos verbos meteorológicos
DOI:
https://doi.org/10.17058/signo.v50i99.20419Palavras-chave:
verbos meteorológicos, semântica lexical, papéis temáticos, aspecto lexicalResumo
“Verbos meteorológicos” (como “chover” e “amanhecer”) apresentam comportamentos semânticos e sintáticos distintos (Costa et al., 2012), sendo comumente categorizados na literatura tanto como inergativos quanto como inacusativos. Esses verbos também são descritos como classe uniforme (Ruwet, 1991) e conjunto heterogêneo de verbos (Roldán, 2013). Neste trabalho, os verbos são analisados no português brasileiro (PB), propondo que eles lexicalizam os eventos do tempo meteorológico de duas maneiras distintas, refletidas em sua estrutura sintática, conforme a análise de Levin e Krejci (2019) para o inglês. Os 17 verbos estudados foram coletados por Borba (1990), e os enunciados que os exemplificam foram extraídos do Corpus do português (Davies, 2016). Esta pesquisa fundamenta-se na hipótese da determinação semântica sobre a sintaxe e na interface sintaxe-semântica lexical (Levin, 1993). Observou-se que os verbos se dividem em duas classes semânticas, correspondentes às estruturas inacusativas e inergativas. Verbos como “chover” assemelham-se aos inergativos; verbos como “amanhecer” comportam-se como inacusativos, apresentando sujeito derivado. Conclui-se que os fenômenos meteorológicos são lexicalizados no PB de dois modos, os quais impactam sua estrutura sintática (Levin; Krejci, 2019). Verbos tipo “amanhecer” comportam-se como achievements, sendo inacusativos, enquanto verbos tipo “chover” funcionam como verbos de atividade, sem predicação, caracterizando-se como inergativos.
Downloads
Referências
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. 671 p.
BURZIO, L. Italian syntax: a government and binding approach. Dordrecht: D. Reisel Publishing Company, 1986. 488 p.
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 748 p.
BORBA, F. (coord.). Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo. 2. ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1990. 1376 p.
CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2012. 192 p.
CANÇADO, M.; AMARAL, L. Introdução à semântica lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis: Editora Vozes, 2016. 256 p.
CIRÍACO, L.; CANÇADO, M. Inacusatividade e inergatividade no PB. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 46, n. 2, p. 207-226, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.20396/cel.v46i2.8637169. Acesso em: 24 abr. 2025.
CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote de la Mancha. Tradução: António Feliciano de Castilho. São Paulo: Editora Brasiliense, 1970.
CHAFE, W. L. Meaning and the structure of language. Chicago: Chicago University Press, 1970. 360 p.
COSTA, I. O.; RODRIGUES, E. S.; AUGUSTO, M. R. A. Concordância com tópico: o caso dos verbos meteorológicos em relativas cortadoras. ReVEL, [s. l.], v. 10, n. 6, p. 1-20, 2012. Edição especial. Disponível em: https://www.revel.inf.br/files/20f73c13bce5da4365a008990b3e3c82.pdf. Acesso em: 8 abr. 2025.
DAVIES, M. Corpus do Português: web/dialects. Washington, 2016. Disponível em: http://www.corpusdoportugues.org/hist-gen/. Acesso em: 15 abr. 2025.
DOWTY, D. Word meaning admontague grammar: the semantics of verbs and times in generative semantics and in montague’s PTQ. Dordrecht: Springer, 1979. 418 p. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-94-009-9473-7. Acesso em: 13 abr. 2025.
FÁBREGAS, A. El argumento espacio-temporal de ciertos verbos meteorológicos. Revista Philologica Romanica, La Rioja, v. 14, n. 1, p. 1-25, 2014. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6318083. Acesso em: 12 abr. 2025.
FILMORE, C. J. The case for case. In: BACH, E.; HARMS, R. T. (ed.). Universals in linguistic theory. New York: Holt, Rinehart, and Winston, 1968. 272 p. p. 1-88.
FREGE G. Function and concept. In: GEACH, P.; BLACK, M. (ed.). Translations from the philosophical writings of Gottolob Frege. 2. ed. Oxford: Basil Blackwell, 1960. 244 p. p. 21-41.
HALLIDAY, M. A. K. Lexis as a linguistic level. In: BAZELL, C. E. et al. (ed.). In memory of J.R. Firth. London: Longman, 1966. 512 p. p. 148-162.
JACKENDOFF, R. Semantic interpretation in generative grammar. Cambridge: MIT Press, 1972. 414 p.
LEVIN, B. English verb classes and alternations: a preliminary investigation. Chicago: University of Chicago Press, 1993. 366 p.
LEVIN, B.; KREJCI, B. Talking about the weather: two construals of precipitation events in English. Glossa: a journal of general linguistics, London, v. 4, n. 1,art. n. 58, p. 1-29, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5334/gjgl.794. Acesso em: 20 abr. 2025.
PERLMUTTER, D. M. Impersonal passives and the unaccusative hypothesis. In: ANNUAL MEETING OF THE BERKELEY LINGUISTICS SOCIETY, 4. 1978, Berkeley. Anais [...]. Lexington: Linguistic Society of America, 1978. p.157-189. Disponível em: https://doi.org/10.3765/bls.v4i0.2198. Acesso em: 15 abr. 2025.
ROLDÁN, A. C. Las oraciones con verbos meteorológicos en la gramática de construcciones. 2013. 181 f. Tese (Doutorado em Filologia) – Faculdad de Filología, Universidad Complutense de Madrid, Madrid, 2013.
RUWET, N. Syntax and human experience. Chicago: University of Chicago Press, 1991. 362 p.
VALIN, R. D. V. Exploring the Syntax-Semantics Interface. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. 334 p. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1017/CBO9780511610578. Acesso em: 24 abr. 2025.
VENDLER, Z. Linguistics in philosophy. Ithaca: Cornell, 1967. 218 p.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Declaro(amos) que o artigo submetido é pessoal, inédito, não representando reprodução, ainda que parcial, de obras de terceiros, assumindo a responsabilidade por todas as colocações e conceitos emitidos, bem como também autorizo(amos) sua publicação pela revista Signo, Universidade de Santa Cruz do Sul. Declaro(amos) exonerar a APESC/UNISC de todas e quaisquer responsabilidades, e indenizá-la por perdas e danos que venha a sofrer em caso de contestação (da originalidade e dos conceitos e ideias); Declaro(amos), caso o artigo seja aceito e publicado pela revista Signo, a cedência e transferência de forma definitiva e perpétua, irrevogável e irretratável, para a APESC, dos seus direitos autorais patrimoniais referentes ao artigo denominado nesta declaração, para utilização da APESC em finalidade educacional. Concordo(amos) e estou(amos) ciente(s) de que a publicação eletrônica é de livre acesso, regida com uma Licença Os autores que publicam na Signo retêm os direitos autorais de seu trabalho, licenciando-o sob a Creative Commons Attribution License que permite que os artigos sejam reutilizados e redistribuídos sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. A Signo é propriedade da Associação Pró-Ensino em Santa Cruz do Sul e hospeda na plataforma Open Journal System. Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.